quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Presos Que Menstruam - Nana Queiroz

TítuloPresos Que Menstruam
AutoraNana Queiroz
EditoraRecord
Páginas294
Classificação

Nana Queiros, jornalista, aborda em seu livro a história de vida das detentas e o cotidiano nas prisões femininas no Brasil. O livro traz um pouco do caminho trilhado por Safira, Gardênia, Júlia, Vera, Camila, Glicéria, Marcela e outras detentas. Escolhas, amores e decisões erradas que culminaram na prisão dessas mulheres. A forma como o Estado trata essas mulheres dentro da prisão ignorando a diferença de gênero como se fosse apenas um pequeno detalhe.  Vemos também a dificuldade dos familiares em estar próximo das suas filhas, mães, irmãs e companheiras diante da truculência e falta de tato da maioria dos agentes penitenciário.

Uma leitura um pouco difícil e que dá um aperto no peito que deixa muito claro que as vezes nós mesmos ou pessoas próximas podemos tomar decisões erradas que vão impactar o resto das nossas vidas. A autora conseguiu trazer para o livro as dúvidas e questionamentos de quem está do lado de fora das grades em paralelo com o sofrimento e dificuldade de quem está preso. 

Das histórias narradas no livro destaco abaixo as histórias e trechos que mais me chamaram atenção.

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Safira viu na falta de comida em casa e nos recursos restritos que seus filhos tinham como uma boa justificativa para virar assaltante. "Seu corpo internalizou a obediência, os olhos não.".

Gardênia era um pouco louca, mãe de tantas crianças que já tinha perdido a conta. "Gardênia, em resumo, era um caos. Caos mesmo neste sentido mitológico, uma desorganização sem passado claro nem presente que pareça interessar. E com capacidade de abarcar em si toda a ira dos titãs."

Júlia cursava direito na Universidade Ibirapuera. Estava no intervalo de uma aula quando a polícia decretou sua prisão. Foi acusada como cúmplice de sequestro, responsável pela alimentação das vítimas em cativeiro. Historicamente acaba sempre relacionando com o tipo errado de homens. "Se colocar dez trabalhadores e um preso numa sala, o preso vai olhar pra mim e eu pra ele, é incrível."

Vera gostava de mulheres mas decidiu ter uma filha. Tinha seus casos mas quando descobriu que o pai da sua filha estava tendo um caso com uma funcionária desistiu de ficar ali e foi pra São Paulo. Na cidade grande a dificuldade financeira acabou culimando na parceria com a irmã, o irmão e o cunhado passaram a fazer sequestros pequenos."Não sonhava além do que sua realidade lhe permitia e tinha uma boa medida das alternativas à sua disposição."

"Quando um homem é preso, comumente sua família continua em casa, aguardando seu regresso. Quando uma mulher é presa, a história corriqueira é: ela perde o marido e a casa, os filhos são distribuídos entre familiares e abrigos. Enquanto o homem volta para um mundo que já o espera, ela sai e tem que reconstruir seu mundo."

"Sabe, mãe, eu não queria que o pai morresse, mas ainda bem que foi o pai, porque se fosse você eu ia falar pro ladrão “pode atirar em mim, porque sem minha mãe eu não vivo”".

"Em geral, cada mulher recebe por mês dois papéis higiênicos (o que pode ser suficiente para um homem, mas jamais para uma mulher, que o usa para duas necessidades distintas) e dois pacotes com oito absorventes cada. Ou seja, uma mulher com um período menstrual de quatro dias tem que se virar com dois absorventes ao dia; uma mulher com um período de cinco, com menos que isso".

"Digressão: o termo “jack” é usado para descrever estupradores e estupradoras nas prisões e surgiu da falta de estudo e habilidade linguística da massa carcerária, que entende que o famoso personagem Jack, o estripador, era, na verdade, Jack, o estuprador".

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